segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Salve Jorge

No Complexo do Alemão não tem para ninguém. Quando o assunto é sacolé, dona Irene Jovinária, 54 anos, é a dona do pedaço. Vendendo seu produto ela fatura, em média, R$ 200 por dia. E conta orgulhosa que, assim, conseguiu criar a filha Karine Alves, 20. Tia Irene, como é popularmente conhecida, é uma das inspirações para Gloria Perez, autora da novela ‘Salve Jorge’, que tem um núcleo todo ambientado nessa região do Rio de Janeiro. Ela também é um dos 25 personagens retratados na exposição ‘Guerreiros da Vida Real’, em cartaz na estação Bonsucesso do teleférico.




Há poucos dias, dona Irene perdeu uma encomenda e tanto. “Conheci a Flávia Alessandra, que é louca por sacolé e ia comprar vários. Mas passei meu telefone errado para ela”, lamenta. Flávia, que na trama interpreta a tenente do exército Érica, ficou só na vontade. “Era aniversário da minha filha e ia encomendar em grande quantidade. Mas ela não me atendeu e acabei me virando com picolé”, conta a atriz.
Já Bruno Itan não dá esse mole. O jovem de 24 anos nunca perde o foco, literalmente. Ele é fotógrafo criado na comunidade. Trabalhava como frentista, mas queria mesmo era sair por aí com uma máquina na mão. “Todo o dinheiro que juntei, usei para comprar meu primeiro equipamento. Em 2007, comecei a fotografar festas na laje, casamentos… A vizinhança toda me requisitava e eu ganhava de R$ 50 a R$ 100 por evento. Às vezes, tinha até que fazer na camaradagem. Até que pintou a oportunidade de estudar fotografia. Me tornei profissional, investi no meu material. Fui o fotógrafo oficial no dia da inauguração do teleférico. A presidenta Dilma Rousseff viu meu trabalho e perguntou se eu não queria ter um emprego fixo. Hoje sou fotógrafo do governador Sérgio Cabral e também faço fotos para o ‘Caldeirão do Huck’”.
Mas e os eventos na Comunidade? “Não dá mais para eu fazer. O tempo passou, as coisas mudaram bastante, mas o pessoal quer continuar me pagando os mesmos R$ 70”, sorri, espantado. Para passar toda sua experiência à frente, ele fundou com parceiros o Fotoclube do Alemão, direcionado aos jovens que têm interesse na área.




Embolsando ainda mais que Bruno está MC Mingau, Douglas Ferreira da Silva na certidão de nascimento. O funkeiro de 26 anos leva sua música para além das fronteiras da favela e do Brasil. “Já me apresentei até na África. A música é tudo na minha vida. Antes da pacificação, via traficantes usando tênis de marca e pensava: ‘Quero trabalhar para ter um igual’. Já comprei carro, casa para a minha avó. No Rio, meu cachê vale R$ 1.500. Fora, cobro até R$ 4 mil”, revela ele, que vai fazer uma participação na novela e terá uma composição da trilha sonora do folhetim. “É o ‘Funk do Alemão’”, faz propaganda.
Eles não estão sozinhos. Junto a Núbia Vasconcellos, que trabalha com mulheres vítimas de violência, Rita Serpa, professora de dança de crianças, jovens e mães, e as outras 20 pessoas homenageadas na exposição, esses cidadãos são os verdadeiros protagonistas de uma história transformadora.
“Eu percebo o brilho nos olhos dos moradores daqui. Eles nunca foram tão mostrados como agora e têm orgulho de dizer que moram no Alemão”, afirma Nanda Costa, a mocinha Morena da história. Dira Paes, que dá vida à sua mãe, Lucimar, acrescenta: “O Alemão é a alma do Brasil. Tem colorido, música, mistura e um respeito e uma educação que a gente não vê na Zona Sul”, derrete-se.

fonte: O DIA





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